Exclusivo: Falamos com os roteiristas da animação Os Under-Undergrounds

De Alesson S. Moreira
Publicado em: Última atualização em: 7 minutos de leitura

Depois de vários anos de espera, a segunda temporada de Os Under-Undergrouds foi finalmente lançada. A animação que é produzida pela Tortuga Studios e exibida nos canais Nickelodeon e TV Cultura conta história de um guitarrista que foi expulso da sua banda e acaba caindo em um bueiro, o que o leva para um mundo subterrâneo chamado “Underground” habitados por seres diferentes, mas ainda muito parecidos com a gente.

Então aproveitando que a nova temporada foi finalizada, conversamos com os roteiristas Fernando Alonso e André Pacano sobre as dificuldades de fazer animação no Brasil, referências e o que podemos esperar em uma possível terceira temporada:

Cuidado!!! Algumas perguntas podem conter alguns SPOILER da nova temporada.

Os Under-Undergrounds
  • “A gente sabe que a produção dessa temporada da animação foi bem complicada. Um dos estúdios que produzia o desenho quase faliu e estamos em meio a uma pandemia que só atrapalha tudo, então gostaria de saber quais foram os maiores desafios de produzir essa nova temporada?”

Fernando: Produzir séries de animação é sempre um desafio, ainda mais num momento delicado como o que vivemos. Um dos grandes problemas que enfrentamos foi o orçamento, que era defasado. Tivemos necessidade de simplificar alguns processos e usar a criatividade de forma a manter o padrão de qualidade. O outro “problema”, que ao final mostrou-se uma solução, foi readequar nossa realidade ao home office. Temíamos atrasar ou prejudicar a produção, mas a realidade foi completamente outra. A fase mais difícil foi a de transição de implementação para o novo modelo de forma completa.

  • Existe uma piada entre os fãs da animação que diz que os episódios roteirizados pelo Nelson (Botter Jr.) e André são mais dor e sofrimento, enquanto os do Fernando são só alegria e amor no coração, então aproveitando que eu posso falar com dois desses roteiristas. Qual é a relação individual que cada um tem com escrever Os Under-Undergrounds?”

Fernando: Na verdade isso aí é culpa do diretor (risos). Brincadeiras à parte, depois que criou-se o arco da história, a separação dos roteiros deu-se por questões, digamos, de identificação, de interesse nos pontos da história que mais atraíam cada um de nós. A gente foi escolhendo de uma maneira orgânica, uma escolha pessoal na maioria dos casos. Um outro approach: talvez porque o Nelson e André são de signos de água, portanto mais emotivos, e eu (Fernando) do signo de fogo, mais expansivo? 🙂

  • A Cindy foi uma das novas adições dessa temporada e além de ser uma personagem incrível, foi uma das primeiras personagens LGBT das animações brasileiras. Como foi criar essa personagem, principalmente com tudo o que ela representa?

André: A Cindy era necessária. Não apenas por ser LGBT, mas por ser mulher e um pouco fora do padrão. Uma das primeiras coisas que a gente conversou ao criar o arco dessa temporada, era que a gente precisava de mais uma personagem feminina no núcleo principal. Tirando a Layla, que é coprotagonista, e a Britney, que era sua rival, as demais personagens femininas eram muito coadjuvantes. A gente queria uma amiga para Layla e para os Unders. Então surgiu a Cindy, doidinha, atrapalhada, mas muito esperta, carismática, sensível e amiga! Altamente inspirada no fandom, já que ela também é fã dos under-undergrounds. Ela é fotógrafa e não é a toa, isso tem função narrativa na série. [SPOILERS] Suas fotos movimentam a trama, como no episódio 03, em que a foto do beijo ajuda o “casal mais freak da escola” a se declarar, assim como no final, quando a agência da Terra consegue as provas necessárias para invadir o Underground [/SPOILERS]. Além de colocá-la dentro da banda, não como musicista, mas como alguém importante nos bastidores (afinal, toda banda tem profissionais aliados, produtores, fotógrafos, etc, que ajudam a impulsionar a banda – e a Cindy concentrou um pouco de tudo isso). E para fechar, ela ainda traz representatividade à comunidade LGBT, que é muito importante em uma sociedade como a nossa. Os Under-undergrounds, desde a primeira temporada, fala sobre diversidade e respeito ao diferente. Então criar um personagem LGBT foi um consenso, apesar de polêmico. Tomamos o cuidado de apresentá-la primeiro, cativar o público, antes dela se assumir, pois a gente sabe que há muito preconceito. E o preconceito é só isso mesmo, um julgamento raso, sem conhecimento. E funcionou, o público amou a Cindy e a história seguiu, sem grandes hates. Estamos muito felizes com a recepção do público, é um sinal que as novas gerações estão vindo para mudar o mundo. E igualmente felizes que Os Under-Undergrounds pode dar esse passo, tão audacioso e importante, que é abordar as diferentes formas de amor em um desenho infanto juvenil <3

Cindy Under Undergrounds
  • Falando em personagens LGBT, tem uma tensão estranha entre o Lud e o James nos últimos episódios, será que vem aí ou só ilusão nossa?

Fernando: Acho que é só ilusão. Como vocês sabem, eles são muito amigos… talvez amigos até demais, não sei. Deixa essa para a próxima temporada. :))

  • Uma das coisas mais divertidas da série são as referências, principalmente as com relação ao Brasil. Como é celebrar essa nossa brasilidade na animação?

Fernando: Eu creio que essas referências foram a forma que encontramos para linkar os Unders com o nosso Brasil, uma vez que a ideia original é falar do amor, das diferenças, e da igualdade. Sendo assim, a ideia é que produzíssemos um conteúdo que falasse a linguagem universal. Mas não poderíamos deixar de lado nosso DNA, nossa origem, e por essa razão trouxemos para a série não só as referencias, mas também toda a diversidade que existe na série, afinal, que povo pode ter uma maior representação cultural e étnica que o nosso?

  • Outro grande atrativo dos Os Under-Undergrounds e que mais fizeram falta nessa temporada são as músicas originais. Qual foi a principal causa de não termos novas músicas nessa temporada? E a gente pode esperar a volta dessas músicas numa terceira temporada?

Fernando: Foram dois motivos principais. O primeiro, é que já tínhamos 26 músicas originais na primeira temporada, o que representa 1 música por episódio. E, na minha humilde opinião, foi um excelente trabalho realizado pela Ultrassom, com as composições do Ruben Feffer e arranjos do Fabio Stamato. Então pensamos em explorar mais essas músicas na nova temporada, para que elas pudessem ter um alcance maior, para que a garotada pudesse curtir, colocar em suas playlists, e etc. Não podiam ficar esquecidas lá atrás. Em segundo, porque conforme mencionado lá na primeira pergunta, o orçamento era um impeditivo de certa forma.

  • Falando nela, a terceira temporada vem mesmo aí? Já é algo confirmado ou a gente vai ter que esperar mais um pouco?

Fernando: Estamos fazendo de tudo para tentar viabilizar a nova temporada. Como bem disse o André Pacano, as ideias já estão todas na cabeça. No ano passado tínhamos acordo assinado, mas com a queda do edital do FSA responsável pela viabilização do projeto, estamos lutando para encontrar parceiros, sócios ou canais, dispostos a embarcar com a gente nessa jornada. Então, nada definido ainda!

  • [SPOILER] Pra finalizar, nessa temporada descobrimos a existência de uma agência da terra, qual era a tal profecia e temos os Under-Undergrounds indo pra terra, eu sei que vocês ainda não podem falar muito sobre o que vai acontecer nessa possível terceira temporada, mas tentem adiantar pra gente algum coisa que vai acontecer nessa treta entre as agências e os Undergrounds

André: O texto a seguir é de inteira responsabilidade do roteirista André Pacano! (rsrs). Segundo ele (que por sinal está igual ao fandom, super ansioso pelo final), as Agências existem para separar os mundos e impedir que o amor entre unders e humanos cresça. Elas representam parte da sociedade que quer impedir as diferentes formas de amor. Na primeira temporada, a agência perseguiu o Heitor justamente por ele ser diferente. Na segunda, ela o aceitou, mas o impediu de amar. Agora, na terceira, eles sabem que Heitor e Layla são um casal e se amam, mas esse casal também sabe que a profecia está errada. Ou seja, eles vão ter que lutar em nome do amor. Ao lado de muito Rock n Roll, é claro!

Ps: Um agradecimento especial a Ana Paola da Tortuga Studios que ajudou na ligação entre a OB e os 2 roteiristas.

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